Vida pandémica!

    Acorda cedo, calça pantufas e dirige-se à cozinha. Prepara o pequeno-almoço enquanto vai lendo as últimas notícias de um mundo em pausa, não que sem antes já tenha ligado a tecnologia existente na casa, conectando-se irremediavelmente a uma panóplia de aplicações, plataformas, páginas, links, pessoas e sei lá que mais.

    O dia é passado, praticamente na íntegra, ali, no recanto de escritório, numa qualquer divisão da casa, que passou de esporádico a permanente. Sente-se assim como que num cenário de um filme, quiçá num armazém abandonado de uma cidade impetuosa e pipitante, a mente astuciosa por detrás de um ecrã de computador, o que comanda sem ser visto, que se faz ouvir sem rosto, que programa, planeia, realiza e age na semi obscuridade dos dias chuvosos de abril. Vilã ou salvadora do mundo? Nitidamente nem uma coisa nem outra…

     8.30 marcam os números vermelhos do relógio e isso fá-la regressar à realidade, a esta que agora vive, e lá esquece os devaneios de estar a fazer algo capital para o mundo! Afinal está a adaptar-se, reinventar-se, estruturar-se mental, laboral e pessoalmente áquilo que um vírus ignóbil lhe impôs, impôs a todos! Está na hora de se sincronizar com jovens seres que se posicionam do outro lado dos fios, frente aos seus próprios ecrãs… e de arrumar casa, fazer comida, ser mãe e afins. O dia lá flui, o destinado cumpre-se e a mente, imaginativa, vai alternando entre a realidade e a imaginação, num saudável equilíbrio, quer ela assim crer, que mantém a vida a rodar!