Posto dos Correios
Hoje ela foi ao Correios.
Há 40, 30 anos atrás, quando era uma miúda, este era um ato normal, corriqueiro. Grande parte das coisas que hoje fazemos pela internet e multibanco eram feitas ali, no posto dos correios. A importância de uma aldeia ou localidade era medida pela existência de uma capela e de um posto dos correios. Era local de reunião diária, de receber notícias de quem estava longe, de recolher as tão necessárias e quistas pensões, de saber noticias, partilhar factos. Era também ai que muitas pessoas, prenhas de sabedoria de vida, mas desconhecedoras dos mistérios das letras, ouviam a funcionária do posto (na memória dela eram sempre mulheres a atender o público nestes locais) a ler as cartas que eram lhes enviadas pelos filhos emigrados em França, residentes nas colónias ou na distante Terra de Vera Cruz.
Hoje o filho foi com ela. E perguntou tudo, porque estavam ali, para que serviam aquelas caixinhas com nome de “apartado”, porque, porque, porque…. Ao ouvi-lo dizer que era a primeira vez que ali entrava, e efetivamente era, recordou as vezes em que ela entrou nos postos de correios da sua cidade. O mais antigo, no centro da cidade, está hoje “abandonado”. Era tão pitoresco lá entrar e ouvir as pessoas pedir para telefonar. Entravam nas cabines que ladeavam as paredes, com telefones vermelhos lá dentro (ou pretos, mas na sua memória british eles aparecem como vermelhos). Discavam o número pretendido, com aquele som característico dos telefones onde não se carregava em teclas para marcar o número, falavam e no final iam pagar os períodos despendidos, marcados num contador.
Toda a gente recebia e escrevia cartas. E a espera de receber as respostas era angustiante, por vezes, mas era delicioso receber um envelope com o nosso nome, abri-lo e ler o que alguém nos dizia. Hoje também recebemos cartas, mas na sua maioria são de contas… estas preferíamos não receber e não ter que lhes dar resposta.
Enfim, tudo é diferente hoje, não melhor, nem pior… só diferente! E bem mais expedito… Mas os correios tinham a sua magia! Pelo menos é assim que ela os recorda!