Pelo meio da luz difusa dos faróis amiúde vislumbrava, com as suas esmeraldas alerta, uns olhos de água marrom, límpidos e ávidos de si, da sua luz, presença, diferença.
Enquanto acarretava destinos, sem nunca perder o foco, ele sentia uma certeza crescer dentro de si. Nunca antes conhecera alguém assim, alguém sem descrição, vinda talvez de outro planeta, repleta de alegria, compreensão, palavra pronta no momento certo, nem que fosse apenas para animar horas de condução silenciosa… Aliás, naquela altura o silêncio não existiu, mesmo que nada se ouvisse. Não havia solidão ali, aqueles olhos falavam, penetravam-lhe a alma e fizeram com que num mesmo momento sentisse o melhor e o pior: o querer eterno, o temer perder!
Impossível não sorrir ao pensar no vivido em terras longínquas, sob um ar gélido que os tornava próximos, que aquecia corações e pensamentos. Sem bem saber como, sem ponderar ou decidir, a luz cúmplice de um futuro ansiado, nunca antes sonhado, mas agora inevitavelmente assumido, instalou-se entre os dois, ali, sem que nada o previsse. Risos, almoços, cumplicidades, um subtil toque num pé, provocações sem maldade, malvadezes pueris sem provocações, felicidades sem privações e tudo se definiu.
À chegada, os olhos marrom enevoaram com a inevitabilidade do adeus… os esmeralda sorriram em esperança, incautos ainda de tanta coisa que descobririam depois… aos dois restava seguir o que ali começara! O universo é perfeito, tudo se alinhará!...