Evasões...

08-01-2017 16:19

    O ar gelado, banhado por um resplandecente sol doirado gela-lhes o cabelo, a pele da cara, o tecido da roupa, mas não paralisa o entusiamo de vivências diversas e cumplicidades, desejadas, impensadas ou inusitadas. Ao longe uma elevação alva assemelha-se a um enorme suspiro fresco e luzidio. O casario, de forte inspiração árabe, deixa antever ruas, ruelas, vielas e becos aprazíveis à vista, fortes odorificamente, em alturas quiçá confundidos com casas de banho públicas, mas também com a deleitosa presença de aromas inebriantes a chás e especiarias remotas.

    Fora e dentro de uma medieval e imponente catedral perambulam centenas de pessoas. À entrada, um aprimorado cão, de porte altivo e focinho alongado, desfila a sua creme e longa pelagem, qual dama em saltos altos coberta por peles. Dois estrangeiros resolvem dançar por ali, apaixonados, envergonhados e muito cúmplices, numa intimidade notória, linda! Ninguém estranha, olham, sorriem, um deleite. A praça está inundada de uma luz natural, intensa, que se começa a evadir, subjugada pelas sombras dos edifícios adjacentes que anunciam o final do dia. Pelas calçadas, as esplanadas aquecidas por fortes “cogumelos” e postes a gás, enchem-se de gente animada que toma os seus vinhos e se regala com pratos diferentes, tapas deliciosas que aquecem a alma e revestem o estômago.

    Há iluminações de Natal, música andaluz chorada e pungente acompanhada de uma dança pesada e sofrida, protagonizada por magníficas jovens de cabelos negros. Há o odor a massa frita mergulhada de cacau derretido, o som de um bulício de cidade grande e cosmopolita, que se esvai nas ruas ingremes e escadarias que sobem e descem as colinas que a constituem. Por lá andam centenas de pessoas e também se deambulam os chineses ou japoneses, asiáticos enfim. É complicado distinguir esta horda de massa humana que se passeia em bando, atrás de um guia munido de guarda chuva, equipados até aos dentes de canhões fotográficos.

    Aos bandos, ou mais a sós, a cidade é perscrutada, sentida, cheirada, os escassos dias de descanso usufruídos com vontade e avidez. Ao voltar a casa, ao que é conhecido, fica a nostalgia do regresso a um palácio que não abriu portas a todos os que lá queriam entrar. A memória afetiva, visual e gustativa  perdura, faz sorrir e seguir em frente no inexorável passar do tempo!

 

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