Hoje ela recordou por instantes os tempos de faculdade. Por entre a limpeza da casa, aspirador, esfregona e pano de pó, rememorou os anos passados em Coimbra, ao limpar fotos desses tempos académicos.
Não sendo saudosista, nem derrotista, guarda com desvelo, numa das gavetas da memória, a sensação de ficar só numa avenida, após ter ido pela primeira vez ao quarto da casa onde viveria durante o seu primeiro ano de curso. Nunca se sentira tão “abandonada”. Até ai vivera com irmãs, pai e mãe, casa sempre cheia e viva. A cidade parecia enorme, tudo longe, ninguém com quem falar, caloira num mundo de fortes tradições académicas. Aos poucos as peças foram-se encaixando, conheceu gente, teve companhia para almoçar e jantar nas cantinas “gourmet” da universidade, as viagens de expresso para casa deixaram de ser desacompanhadas, por ter amigos da mesma terra onde vivia.
Foram quatro anos de alegrias, conquistas, desaires, aprendizagens de alguém que entra adolescente numa universidade e sai direto para o mundo de trabalho. A nível pessoal estes anos representaram a perca de um progenitor, sentimentos de pertença a algo, de amizades súbitas mas duradoiras, alimentadas por um mesmo sentimento de apoio a outrem que está longe do que lhe é conhecido, e vivências várias, que a magoaram, exaltaram, a fizeram amadurecer. Não voltaria atrás, nem se recorda sistematicamente daqueles anos, mas acarinha-os com orgulho e acima de tudo satisfação. Cresceu e aprendeu e isso é o melhor rescaldo do vivido.