Uma tosse penetrante e pertinaz, uma voz grossa de adolescente que balbucia termos incoerentes. E de repente a face vira-se para a esquerda, o corpo fica rígido. Ele não ouve, não responde, o olhar é vago e um olho treme ininterruptamente. Parece querer falar, dizer que tem dor e a respiração sugere falhar, parar. Há o desespero de não saber o que fazer, de ser um ser nosso que ali está assim e a impotência de agir, o gritar incessantemente o nome dele, numa tentativa infrutífera de o “acordar”. Num momento está a falar, a escolher o que almeja comer ao pequeno almoço, e no minuto seguinte desliga, o corpo não responde, a carinha fica longe, muito, muito longe.
Num ápice mãos sabidas trazem tubos, injetam medicamentos, colocam o corpo de lado, fazem respirar oxigénio… eles, quem o quer levar dali, dão lugar a quem sabe, olham ávidos de reação, impacientemente serenos e alertas. As palavras sossegadoras de quem trabalha, a respiração finalmente existente, audível e um menino doce que abre os olhos longos minutos depois como que para acalmar corações.
Horas mais tarde estabiliza, acorda igual a si, come, ri, quer ver TV, andar e ver o que o rodeia, onde está. Agora há que tomar panaceias, fazer exames, ter cuidados, aprender convivências inesperadas. E vai aprender tudo, vão aprender. Seguir em frente e ser felizes. Vamos todos sê-lo! Chega!